quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Pureza (2019)


 Festival de Vitória - Ainda em 2020, escravidão ainda pode ser um assunto delicado. Quando, em 1888, a Lei Áurea foi assinada pela então princesa Isabel e por Rodrigo Augusto da Silva, a ideia era que esse problema sociocultural fosse deixado para trás, mas é claro que isso não aconteceu. Quando digo que é um assunto delicado é porque muitos ainda vivem o trabalho análogo à escravidão, talvez disfarçado com outro nome ou cara, ou então escondidos na profundezas dessa terra que as vezes é de ninguém, mas sem nunca se extinguir.


O diretor Renato Barbieri se apoia em uma história real para nos trazer Pureza, filme que volta ao tempo do Plano Real e mostra o quão retrógrado era o país que visava a evolução. Pureza, a personagem, é uma mãe guerreira que em busca por seu filho enfrenta todo um sistema exploratório da população mais necessitada, sistema que vai desde um jagunço a colarinhos do senado. 


Porém, os fatos pouco ajudam na originalidade da história. Barbieri perde muito do crível adicionando uma dose desconexa de drama nas cenas que precisaram ser inventadas. O que chama mais atenção é a atuação de Dira Paes, que brilha em cada cena. Com um roteiro cheio de clichês, a atuação de Paes se mostra necessária para que a narrativa seja atraente do início ao fim. Não que a produção seja ruim, na verdade é bem feita e a fotografia aproveita muito bem o interior da floresta amazônica, mas o potencial que a vida de Pureza poderia ter dado ao filme é bem maior. 


Sobre Pureza, posso dizer que estou encantado com Dira Paes e, se não necessário, o filme tem um papel importante para chamar a atenção ao trabalho análogo à escravidão, que nunca deixou de existir. O Festival de Vitória está apenas no começo para dizer qual filme será escolhido por júri e público, mas certamente Dira Paes garantiu alguns votos para o filme de Barbieri.

sábado, 8 de agosto de 2020

Los Modernos (2016)


Uma discussão sobre a modernidade pode ser bem complexa, ainda em um filme onde a subjetividade é amplamente discutida. Mas foi o risco que a dupla de diretores e roteiristas Mauro Sarser e Marcela Matta decidiram correr em Los Modernos e, garanto, não poderiam ter chegado a melhores resultados. O filme uruguaio traz uma série de questionamentos sobre relacionamento, buscando diversas situações mesmo com poucos personagens, que, quero observar, atuam perfeitamente.


Fausto (o próprio Mauro Sarser) é um editor freelance que deseja viver o lado bom da vida. Clara, sua namorada, é mãe de dois filhos e precisa administrar seu tempo entre eles, seu trabalho e seu namoro. Já Martín, melhor amigo de Fausto, é um recém casado que, ao contrário de sua mulher, deseja deixar as coisas de casais um pouco de lado e focar sua carreira profissional. Resumidamente, podemos dizer que o filme gira em torno de escolhas que os personagens precisam fazer: a paternidade, o sucesso profissional e a vida sexual.


Mas nada é tão simples assim. Muitas vezes devido ao seu egocentrismo, Fausto tem dificuldades em conversar com outras pessoas, porém, é a partir disso que ele conhece Fernanda, uma jovem atriz e dramaturga por quem se apaixona. Essa paixão muda completamente sua vida, já que as responsabilidades da nova pretendente são bem diferentes as de Clara. Mas em uma narrativa cheia de reviravoltas, nenhum romance é completo ou definitivo. 


Los Modernos explora o comportamento e os relacionamentos daqueles que ainda estão no começo da vida adulta. Tendo como foco o amadurecimento e o auto conhecimento, boa parte do longa mostra aos personagens os desafios de um relacionamento moderno, com idas e vindas, que sempre chegam ao seu ápice quando a paternidade/maternidade entra em discussão. Sendo essa questão, uma forma da dupla de diretores mostrarem o desenvolvimento do relacionamento de cada casal.


Sarser e Matta mostram uma variedade de relações e como é possível, mesmo com um tropeço ou outro, que qualquer delas dêem certo. E levando em consideração a procura do amor verdadeiro, talvez seja isso o que os personagens conquistem, embora não seja aquele amor juvenil, ardente, mas um amor sincero e maduro.