Durante minhas aulas de geopolítica na faculdade, o
professor, um sujeito bem peculiar, sempre dizia: “São Paulo é um país
diferente do Brasil”, isso devido a crescimento dessa megalópole. Nos últimos anos
tivemos a chegada de diversos imigrantes, em busca de moradia e melhores condições de vida.
Isso é o que vemos em Era o
Hotel Cambridge (2016), da diretora Eliane
Caffé, uma visão das condições de pessoas que vêm para São Paulo, fugindo de verdadeiras guerras civis, a
procura de moradia, dividindo seu foco entre brasileiros e imigrantes, a
mistura fica clara em uma frase marcante dita por um imigrante palestino, algo
como “Nós somos refugiados de outros países no Brasil, você são refugiados
brasileiros no Brasil”.
O filme traz a ativista Carmen Silva, que toma a frente do
Frente de Luta por Moradia (FLM) no filme e na vida real. Além dela, temos a
participação de José Dumont, que já havia trabalhado com Caffé em Narradores de
Javé e, mais uma vez, faz uma excelente atuação. E a atriz Suely Franco, que
trabalha com empenho em um papel simples, mas bonito de se ver.
A simplicidade é que dá as cartas aqui, falar muito sobre o
filme seria contar toda a sua história e acabar com a experiência de quem
pretende assistir. Mas em meio a essa simplicidade, Era o Hotel Cambridge é uma
das grandes produções nacionais dos últimos anos, deixando de lado o
tradicional feijão com arroz e trazendo aspectos políticos e sociais que
passam, muitas vezes despercebidos, por nós todos os dias.
O roteiro, que além de Eliane Caffé é assinado por Luis
Alberto de Abreu e Inês Figueiró, é bem amarrado. Nenhum dos personagens ganham
total atenção, o foco é dividido entre todos e no fim, a participação de cada
um é notada e bem recebida, atores e não-atores contracenam como se a câmera sempre
estivesse ali.
Era o Hotel Cambridge recebeu o prêmio de “Cinema em
Construção” no 63º Festival de San Sebastián, na Espanha, quando ainda estava
em fase de pós-produção. É bom ver um filme com um tema tão forte ser reconhecido
fora do país, não só para o cinema nacional, mas para que as pessoas abram os
olhos para um assunto tão delicado, já que estamos falando de pessoas de outras
etnias e culturas, que ocorre não só no Brasil, mas no mundo inteiro.