Editorial


O Som ao Redor (dir. Kleber Mendonça Filho, 2012)
O Som ao Redor (dir. Kleber Mendonça Filho, 2012)

A MELANCOLIA DOS DIAS (UMA VIDA SEM CINEMA)

Vivemos dias sombrios. O "assesso" a cultura (quem não viu essa?) está cada vez mais difícil, salvo pelo streaming que nos traz aquilo que gostamos para dentro de casa. Porém, ando ausente, sinto falta da tela grande, da cadeira às vezes confortável, às vezes não. Sinto falta da ansiedade de cada festival e aquele café depois da sessão, sinto falta até das pessoas. Mas no meio dessa melancólica saudade também surgiu uma coisa boa, uma verdadeira mudança. O aluguel de uma casa nova e alguém para compartilhar. Isso me fez escavar minha coleção de DVDs e vamos assistindo, algumas vezes até transformando o filme em uma série, à nosso bel-prazer. Seguimos nos cuidando, com filmes para a cabeça, álcool em gel pro físico e amor para o todo.


Fico pensando em uma vida sem cinema. Agora, mais do que nunca, os problemas entre Cannes e Roma, de Alfonso Cuarón, um filme visto na TV não se equipara àquele que é exibido no Cinema. Gostei muito de Roma, tive oportunidade de assisti-lo nos dois formatos e estou pensando em vê-lo novamente, mas a versão de cinema é realmente algo diferente, um outro filme. Mas fomos forçados a nos acostumar com um cinema de tela pequena, como diz o ditado: quem não tem cão, caça com gato. E com gato continuamos e confesso que estou vendo surgir coisas boas, com maior facilidade de "assesso" e criando novos formatos de produção, trazendo futuros grandes cineastas a mídia.


Evito assistir a jornais, sinto falta, sempre surgia uma ou outra novidade boa. Mas o número de mortes diárias aumenta essa melancolia, se ainda colocarmos na conta o nosso desgoverno, é, fica difícil de viver. Mas como escrevi anteriormente, assim ainda caminha a humanidade. Essa situação sempre me lembra El Angel Exterminador, do Buñuel, a diferença é que ao invés de não conseguirmos sair de casa, não podemos, daí é cada um sustentando sua máscara.


Não posso dizer que não saio, preciso trabalhar, mas sinto falta daquela cerveja na sexta a noite, ainda mais nesses dias quentes. Fui ao Rio (a trabalho) e o que vi foi aquilo mesmo que ouço falar no rádio, um total descaso com a situação atual. Queria ter visitado o Rio em outras circunstâncias, durante o Festival seria a melhor escolha, se existem para esse ser coisa melhor em uma viagem além de ver bons filmes, essas são bem escassas. 


Tenho preparado alguns ensaios e observações que pretendo trazer para cá em breve, farei isso como uma terapia. Mas por hora não pretendo falar de nenhum filme em específico, mas posso dizer que daqui a pouco vou fazer uma sessão de O Homem que Copiava e tenho algumas coisas interessantes sobre ele. Cuidem-se e cuidem daqueles que estão por perto. Usem álcool em gel e muita cultura para atravessarem essa distopia que vivemos e não se esqueçam que tudo isso vai passar.


Tadeu Elias Conrado.

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