sábado, 8 de agosto de 2020

Los Modernos (2016)


Uma discussão sobre a modernidade pode ser bem complexa, ainda em um filme onde a subjetividade é amplamente discutida. Mas foi o risco que a dupla de diretores e roteiristas Mauro Sarser e Marcela Matta decidiram correr em Los Modernos e, garanto, não poderiam ter chegado a melhores resultados. O filme uruguaio traz uma série de questionamentos sobre relacionamento, buscando diversas situações mesmo com poucos personagens, que, quero observar, atuam perfeitamente.


Fausto (o próprio Mauro Sarser) é um editor freelance que deseja viver o lado bom da vida. Clara, sua namorada, é mãe de dois filhos e precisa administrar seu tempo entre eles, seu trabalho e seu namoro. Já Martín, melhor amigo de Fausto, é um recém casado que, ao contrário de sua mulher, deseja deixar as coisas de casais um pouco de lado e focar sua carreira profissional. Resumidamente, podemos dizer que o filme gira em torno de escolhas que os personagens precisam fazer: a paternidade, o sucesso profissional e a vida sexual.


Mas nada é tão simples assim. Muitas vezes devido ao seu egocentrismo, Fausto tem dificuldades em conversar com outras pessoas, porém, é a partir disso que ele conhece Fernanda, uma jovem atriz e dramaturga por quem se apaixona. Essa paixão muda completamente sua vida, já que as responsabilidades da nova pretendente são bem diferentes as de Clara. Mas em uma narrativa cheia de reviravoltas, nenhum romance é completo ou definitivo. 


Los Modernos explora o comportamento e os relacionamentos daqueles que ainda estão no começo da vida adulta. Tendo como foco o amadurecimento e o auto conhecimento, boa parte do longa mostra aos personagens os desafios de um relacionamento moderno, com idas e vindas, que sempre chegam ao seu ápice quando a paternidade/maternidade entra em discussão. Sendo essa questão, uma forma da dupla de diretores mostrarem o desenvolvimento do relacionamento de cada casal.


Sarser e Matta mostram uma variedade de relações e como é possível, mesmo com um tropeço ou outro, que qualquer delas dêem certo. E levando em consideração a procura do amor verdadeiro, talvez seja isso o que os personagens conquistem, embora não seja aquele amor juvenil, ardente, mas um amor sincero e maduro.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Joana D'arc Egípcia (Egyptian Jeanne D'arc, 2016)

 

Mostra de Cinema Egípcio - O quanto é possível descobrir sobre uma pessoa lendo seu diário? Em Joana D'arc Egípcia, é possível dizer que muito mais do que muitos que a conheceram e fizeram parte de sua vida pessoal. O documentário da diretora Iman Kamel levanta suspeitas, com uma narração em inglês até parece que será algo genérico diante da cultura e do social do Egito, mas logo entendemos a necessidade da opção linguística, é o alcance que a história de Jeanne precisa ter. Por sua vez, Jeanne se trata de uma beduína que procura, através das artes visuais, transcender e encontrar seu lugar em meio a revolução egípcia no início dos novos anos 2010.


Jeanne deixou sua tribo em busca de novas descobertas. Sua paixão era a dança e através dela conheceu pessoas, momentos e formas de expressão que outrora não seria capaz. Além do diário, Kamel conta essa história através de entrevistas com nomes que estão presentes no que é descrito por Jeanne. São mulheres que passaram e marcaram sua vida, a maioria estando ao seu lado na revolução de 2011. Nisso, é interessante ver o desenvolvimento dessas mulheres e a importância daquilo que fizeram na revolução. 


Muitas vezes o que é descrito no diário parece poesia. E é uma das passagens mais bonitas que nos deixam desolados. Jeanne é presa em 2011, na prisão, assim como aconteceu no Brasil a partir dos anos 1960, ela foi torturada e abusada física e psicologicamente, porém, seu espírito não foi quebrado. Mesmo diantes de uma situação tão aterradora, é bonito ver como ela aparentemente segue em frente, sempre buscando refúgio na arte, no seu caso, na dança.


Além dessa biografia de Jeanne, muito bem dirigida por Kamel, Joana D'arc Egípcia nos mostra o poder do feminismo em uma sociedade tão conservadora. Como está sendo possível ver em outros filmes da mostra, as mulher egípcia vive uma época de transição, que é demorada, mas está acontecendo. Com tantas mulheres (peço licença a palavra) empoderadas em um único filme, percebemos que aquilo que fizeram há 9 anos foi de extrema importância para que essa mudança no comportamento social acontecesse. Este é um documentário que deveria atravessar continentes e espero que a cada dia chegue a mais e mais pessoas.