sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O Paraíso Deve Ser Aqui (It Must Be Heaven, 2019)


43° Mostra SP - Homenageado pela Mostra, Elia Suleiman é um diretor singular. Diretor e ator palestino, Suleiman sempre traz discussões interessantes em seus filmes. Assim foi em Intervenção Divina (2002) e O que Resta do Tempo (2009), e assim é em O Paraíso Deve Ser Aqui, onde ele faz uma mistura de humor e política para discutir problemas atuais, através de uma beleza imagética que é de encher os olhos. 

No filme, Elia Suleiman faz o papel de um cineasta palestino que viaja a alguns países em busca de financiamento para sua nova produção. De acorda com um produtor francês, "o filme não é suficientemente palestino", mas então o que seria um filme palestino senão um filme feito por um palestino que fala sobre a Palestina? Suleiman é a própria Palestina. Em um mundo onde a Palestina não é reconhecida pela Academia do Oscar como um país, o diretor rompe essa barreira e representa a Palestina  a disputa pela estátua de Filme Estrangeiro. Aqui já vemos o tamanho da preciosidade que estamos falando.

O diálogo é pouco, Suleiman prefere o uso da imagem, e devo dizer que de belíssimas imagens, para transpor os absurdos do mundo. Em meio a cidades vazias, o personagem registra paramédicos que entregam marmitas para moradores de rua, policiais que conferem espaços de calçadas, uma fugitiva que desaparece em meia a perseguição e outros acontecimentos que não parecem fazer parte da realidade.  Mas o que é capturado pela câmera são imagens estonteantes e, sim, é preciso dizer isso mais de uma vez porque é a maior qualidade do filme. Não que o restante seja ruim, é tudo muito bom, de sair do cinema maravilhado. Mas quando a câmera está estática só observando o que acontece ao redor de Suleiman, dá aquela vontade de entrar na tela só para ver mais de perto. 

O Paraíso Deve Ser Aqui é um filme que mostra lugares. Lugares e pessoas em constante movimento. Mas Suleiman está sempre parada, alheio ao movimento do que acontece ao redor. O diretor mostra que a Palestina que procura mostrar em seu filme não é tão diferente assim dos absurdos do mundo, mas tão comum quanto. Talvez Suleiman seja a própria Palestina e seu filme venha só para corroborar esse fato. Em meio a diversas manifestações, O Paraíso Deve Ser Aqui nós leva a uma viagem imagética, cheia de beleza e intenções.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

La Vida en Común (2019)


43° Mostra SP - descendentes de uma tribo indígena expulsa de seu território na década de 1980 são convidados pelo governo argentino a reocuparem suas terras. A história se desenvolve através dos olhos dos mais jovens, que são intermediários da cultura indígena arcaica e das novas tecnologias, que caminham juntas durante toda a produção. Existe também a presença de um puma, que embora raramente visto por alguém, tanto espectador quando personagem, está sem presente no dia a dia dos jovens. La Vida en Común é um documentário escrito e dirigido por Ezequiel Yanco, com uma excelente fotografia a cargo de Joaquin Neira.

Falar sobre a produção, é falar sobre a história de tribos ancestrais da Argentina. Já em 2015, Yanco partiu atrás dessa história, em um lugar onde os destroços causados pela invasão dos militares ainda podiam ser vistos. O extermínio dos indígenas na década de 1970 teve como desculpa o progresso do país, e fora ainda mais incentivado após o assassinato de colonos que buscavam ocupar as terras. Hoje eles vivem no que parecem casas futuristas desenhadas para que a nova cidade possa acompanhar o desenvolvimento urbano. Mas o puma, como um ancestral que sempre lembra da cultura e tradições ancestrais, está sempre presente, como caça, ou como caçador.

Mas depois da vida em centros urbanos, retornam às origens com a tecnologia que se tornou indispensável. Um smartphone que usam para ouvir música, ou reproduzir cantos de pássaros, atraindo outro e facilitando a caça. Daí vem a importância da visão juvenil sobre a situação daquele povoado. O novo e o velho encontram-se a partir deles com suas tecnologias herdadas de suas vidas na cidade e a recuperação da cultura indígena, que é feita por meio dos dialetos, danças e costumes aprendidos na escola da região.

É preciso atenção para captar a ideia que Yanco procura transmitir com La Vida en Común. Porém, o que mais agrada e se torna fácil de enxergar, é a fotografia de Joaquin Neira. O planos abertos que exploram cada relevo daquele deserto são belos, do anoitecer ao nascer do sol, existe sempre uma estética que surpreende. Como na cena em que um dos garotos dançam no entardecer, começando com o sol ofuscando os olhos de quem vê, para num segundo momento o garoto tomar o foco, como se através da dança estivesse renascendo, sendo quem ele realmente gostaria de ser.

La Vida en Común pode ser um documentário um pouco lento, cansativo, mas vale a experiência para aprender um pouco mais sobre as origens indígenas argentinas, que pouco chega ao cinema, e também receber uma excelente fotografia, que é de encher os olhos. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Labirinto (Labirent, 2019)


43° MOSTRA SP - Ele corre e grita por seu filho. Em desespero, decide chamar a polícia e iniciar uma busca, é preciso uma fotografia do garoto. Amirali (shahab Hosseini) parece um tanto displicente em ajudar, algo está errado. O desaparecimento revela uma série de fatos ocultos em torno da família. Traições, mortes e desprezo vêm à tona em Labirinto, filme escrito por Tala Motazedi e dirigido por Amir Hossein Torabi.

Desde A Palestina Brasileira tenho me interessado pelo cinema do oriente médio. Em sua maioria, são documentários que tratam da situação política, social e cultural dos países, talvez por isso Labirinto me surpreendeu tanto. Uma obra de ficção com um roteiro muito bem amarrado, atores incríveis e uma história nada intuitiva. Fica claro que Amirali está escondendo algo em torno do desaparecimento de seu filho (que na verdade não é seu filho), e durante todo o tempo as cartas são postas à mesa, dando sugestões do que poderia ter causado o incidente. Mas é sempre um jogo falso, um beco sem saída. Amirali enfrenta seu esposa, Nadir (Sareh Bayat), e sua família, sem saber ao certo o que fazer.

Uma amiga da família está sempre por perto, ajudando, dando suporte para aqueles mais exaltados. Seu papel é importante na trama, mas não como um pilar, é mais profundo que isso. Pois ela é amante de Amirali, e já perto do fim descobrimos que ele estava com ela na hora do desaparecimento, e não em um supermercado como foi dito. Mas ainda a muita coisa para desvendar nessa história, surpreende como acontece tantas coisas em pouco mais de uma hora, e nenhuma delas está largada em algum canto, tudo faz sentido e surpreende.

Dificilmente se vê uma produção tão curta com tudo o que Labirinto apresenta. O drama familiar que não ocorre por acaso, tudo é explicado. Muitas vezes nos fazem questionar os motivos, nos dão sugestões, mas no fim é sempre um equívoco. Gostei do trabalho de Amir Hossein Torabi, além da história bem aproveitada, a fotografia é excelente, sempre focando na expressão dos atores, que atuam muito bem. Labirinto é um ótimo filme de ficção, que abre um leque ainda maior do cinema iraniano, mostrando que além de chamar a atenção para a situação do país através de documentários, também pode entreter. 

sábado, 19 de outubro de 2019

Viajante da Meia-Noite (Midnight Traveler, 2019)


43° MOSTRA SP - Resistência. Esse é o motivo que leva os cineastas Hassan Fazili e Fatima Hossaini, e suas duas filhas, a fugirem do Afeganistão. Fazili gravou um documentário com um dos cabeças do Talibã, o resultado foi o assassinato do general e ameaças de morte a família de Hassan. Diante da ameaça, a família foge em busca de asilo, sem saber o que aguardar. A jornada é longa e muitas vezes tortuosa, com duas crianças as coisas ficam ainda mais difíceis. Munido apenas de celulares, Hassan Fazili nos entrega Viajante da Meia-Noite, um documentário diferenciado devido a aproximação do diretor com a situação, onde as filmagens e os bastidores são unidos com a crua realidade dessa guerra ideológica.

No início das filmagens até parece se tratar de uma viagem de férias. A esperança do casal de que dê tudo certo e a alegria das crianças na expectativa de partir em uma aventura. Todo esse cenário dá ao documentário um ar alegre, diferente do que vem na sequência. A cada país, um novo pedido de asilo negado. Com travessias ilegais, a família é ameaçada por traficantes e logo abandonada. As coisas se tornam ainda mais difíceis quando estão alojados em um “campo” na Bulgária. Lá a vida parece boa, finalmente possuem uma casa, depois de dias dormindo no relento, as coisas parecem que finalmente estão melhorando, até que gangues de búlgaros começam a atacar os refugiados. Sentindo a insegurança do lugar, a jornada é retomada, dessa vez com o frio da neve que vai caindo.

As duas filhas do casal de cineasta, se não me engano com 4 e 6 anos, são sensacionais, protagonizando muitos momentos do documentário. É interessante ver como as duas são inteligentes e altruístas, sempre incentivadas pelos pais. Visto que nasceram e cresceram no Afeganistão, um país extremamente conservador, as atitudes das duas meninas é formidável, como um ato de resistência àquilo que não concordam. Mas ao mesmo tempo é triste ver pessoas são pequenas sujeitas a situações em que se encontram. Em dado momento a filha mais velha diz que seus pés estão congelando, eles dormem no meio da floresta em cima da neve, e tudo que Fazili pode fazer é cobrir seus pés com o cobertor.

Vez ou outra Fazili aproveita a beleza dos lugares por onde passa. Como uma brincadeira, mostrando toda a parte turística em uma situação tão adversa. Viajante da Meia-Noite é mais urgente que um simples registro para a posterioridade. Hassan Fazili e Fatima Hossaini trabalham a todo momento ideias e ideais que os levaram até aquele ponto, prometendo mudanças para o futuro. No fim eles conseguem o almejado asilo, mas a melhor recompensa para quem passa por uma trilha tão dolorosa, seria o direito de viver em paz no próprio país.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Oleg (Oļegs, 2019)


43° MOSTRA SP - Natural da Letônia, Oleg (Valentin Novopolskij) tenta ganhar a vida trabalhando como açougueiro em Bruxelas. Mas um acidente de trabalho, onde ele é acusado injustamente, faz com que perca o emprego. Sem trabalho e precisando de dinheiro para ajudar sua avó e pagar dívidas na Letônia, Oleg acaba caindo no golpe de Andrzej (Dawid Ogrodnik), um criminoso polonês que já vem sendo investigado pela polícia. Tudo começa como uma amizade, mas com o tempo, Oleg vai notando que Andrzej não fará nada do que prometera e voltar atrás será um tarefa difícil.

Oleg, dirigido por Juris Kursietis, é um filme bem singular. Filmes como esse (podemos colocar Carfanaum, Aika e Enclave nessa lista) trazem suas peculiaridades. A jornada humana cada vez mais presente nos nossos dias. O imigrante, ilegal ou não, que busca oportunidade em países desconhecidos, onde ficam a mercê de qualquer injustiça, pelo simples fato de não ser originário daquele local. É algo a se explorar, Kursietis faz isso mostrando alguns dias da vida de Oleg, que procura apenas uma forma honesta de ganhar seu dinheiro.

Outro ponto explorado pelo diretor é a fé do protagonista. Sempre fiel aos seus princípios, divergindo apenas quando não vê outra saída. Mas em momentos em que poderia se aproveitar de certas situações, age de acordo com o que julga correto. Como quando entra de penetra em uma festa, é confundido como ator e acaba a noite na casa de uma "intelectual", que assim que descobre quem ele realmente é, o manda embora.

Juris Kursietis monta uma ótima trama para contar essa história de Oleg, mas existe ali um problema. Da metade para frente o filme se arrasta demais. Algumas cenas poderiam durar menos, ou até serem excluídas. Embora façam sentido, não são exatamente necessárias. Ainda assim é uma ótima experiência do cinema letão. A fotografia sufocante em momentos de tensão e linda em planos abertos, dá a Oleg uma estética intimista, levando o espectador a um cenário injusto, mas mostra que também é possível resolver esse e qualquer outro problema. Podemos dizer que a produção de Kursietis é um filme que gira em torno da injustiça e preconceito, mas também tem muita fé e superação.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Morto Não Fala (2018)


Lembro de quando assisti A Mata Negra, do Aragão, no Festival de Vitória, em 2018. Gostei muito do que vi, o cinema de terror brasileiro em um rumo inimaginável. Depois vieram O Animal Cordial (de Gabriela Amaral Almeida), As Boas Maneiras (de Juliana Rojas e Marco Dutra), o recente O Clube dos Canibais (de Guto Parente) e alguns outros. Todos com suas particularidades, mas excelentes produções. Chegou a vez de Dennison Ramalho, que em Morto Não Fala, monta um thriller tenso e assustador.

Estênio (Daniel de Oliveira) trabalha no IML, uma atividade que muitos já acham assustadora. Seu trabalho consiste em auxiliar e garantir a limpeza dos corpos que chegam a sua sala. Pode ser que falar com os mortos seja algo comum no ramo, mas o filme foge da estatísticas reais quando o falecido responde. Embora pareça loucura, Estênio leva tudo na maior tranquilidade, como se fosse normal. Em casa é que acontece o pesadelo. Seus filhos em fase de pré adolescência dão trabalho para a esposa, Odete (Fabiula Nascimento), que por sua vez, repudia o marido.

É nesse cenário que Estênio se encontra quando um dos mortos revela que sua mulher o está traindo. Mas "palavra de morto é palavra de morte", quando Estênio toma uma atitude levando em consideração tudo o que os mortos já lhe disseram, ativa uma maldição irreversível. A partir desse momento o mundo do protagonista vira de ponta cabeça e o público recebe altas doses de tensão.

O que mais me motivou a ir ao cinema assistir Morto Não Fala foi a participação de Daniel de Oliveira. Gosto muito desse ator, acredito que seja um dos atores brasileiros mais completos. Também gosto muito de Fabiula Nascimento, não acreditei em como ela me fez odiar seu personagem nesse filme. Bianca Comparato possui uma atuação singela, aparece pouco, mas cumpre seu papel e dá muita ligação para a história. Mas quem mais me surpreendeu foi Dennison Ramalho. Conseguiu, em um gênero ainda tão pouco evoluído no país, uma bela produção, que filme lindo. 

Tudo ali conspira contra o espectador. O cenário, a câmera, o desenrolar da história. Embora alguns acontecimentos sejam bem sugestivos, Ramalho ainda consegue surpreender. Você sabe que as coisas vão acontecer, mas a forma como elas acontecem é que nos pega desprevenidos, tomando aqueles sustos inesperados. 

Sai do cinema ainda tenso, mas feliz por ver um filme de terror brasileiro com tamanha qualidade. Esse é um gênero que não costumo assistir, mas acredito que Morto Não Fala disputaria em pé de igualdade com qualquer filme internacional. Gostaria que ficasse um bom tempo em exibição, pois um filme de terror é sempre melhor visto no cinema e já estou incentivando muitos amigos a irem se assustar, assim como eu fiz.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meu Nome é Daniel (2018)


Normalmente um documentário parte em busca de algo. Procuramos uma identidade ou alguém que perdemos contato. Procuramos inspirações ou uma forma de expor um mundo desconhecido. Mas em Meu Nome é Daniel, um autorretrato do diretor Daniel Gonçalves, buscamos descobrir o motivo de sua "paralisia cerebral" (coloco isso em aspas, porque mesmo quando o filme chega ao fim, depois de alguns exames, a verdade ainda permanece oculta). Mas não se engane pensando que será uma jornada tortuosa, de salas fechadas com pessoas de jaleco branco. Daniel usa filmagens feitas por seu pai quando ele ainda era pequeno e faz um colagem que mostra todo o seu desenvolvimento, mostrando sua perseverança e atitude.

Embora a ideia de partir em busca dessa descoberta dê início ao filme, ela é tratada em poucos momentos. Na maior parte do tempo temos essa colagem, que mostra como Daniel e sua família conviveu com sua deficiência durante os anos. Toda sua vida é mais que superação, é perseverança, atitude e coragem. É interessante ver como o próprio Daniel persistia em fazer as coisas sozinho, aprendendo a lidar com sua situação. Por isso hoje ele é o personagem dessa produção, um cineasta, um montanhista e coisas que nem mesmo ele achou que seria.

Daniel leva o espectador para o seu íntimo, como se fosse parte da família. Isso fica claro com os enquadramentos, sempre próximos, como se em sua produção seguisse a estética usada por seu pai anos atrás. Essa proximidade nos faz entender sua luta. Logo o motivo para sua limitação se torna coadjuvante e nos atemos a sua luta. É notável ver o esforço de sua família, e dele próprio, para fazer parte das coisas desde sua infância, menosprezando sua condição e buscando agir como igual diante dos demais.

Meu Nome é Daniel é uma surpresa. O que uma sinopse pudesse apresentar uma história dramática, Daniel apela para o humor, mostrando que sua limitação de movimento não define sua vida. Em alguns momentos, como quando decide dirigir um carro ou fazer omelete, ele usa o bom humor para lidar com situações complicadas. Mas o que mais chama a atenção é a analogia feita para encerrar o documentário. Nascido em família de classe média alta, ele questiona como seria recebida a mesma história contada por uma pessoa em outra situação social. É importante levar isso em consideração, dada a situação atual do país, mas o cinema vem forte nesse quesito e assim como Daniel, vamos superar qualquer adversidade.

domingo, 13 de outubro de 2019

Lembre-se de Mim, Por Favor (Qing Ni Ji Zhu Wo, 2017)



Seguir carreira em cinema não é uma tarefa fácil. Caiyun (Wenjuan Feng) sente isso na pele. Vinda de uma cidade interiorana da China, onde era uma famosa atriz de teatro, ela chega a Xangai em busca de seu sonho: ser uma famosa atriz de cinema. Chegando na cidade grande, vai direto para a casa de Ah Wei (Jia Yiping), um cinegrafista que se contenta com o pouco de cinema que consegue fazer. Os dois procuram reviver a história de amor de Zhao Dan e Huang Zongying, dois personagens importantes na história do cinema e da cultura da China, mas a diferença de objetivos os coloca em conflito.

Lembre-se de Mim, Por Favor, dirigido pela diretora Peng Xiaolian, explora muitos aspectos do cinema, amor e a vida na China. O primeiro deles mostra o papel no cinema de pessoas que buscam o sonho de viver dele.  Temos duas buscas, a de Ah Wei, que trabalha às margens do que é o cinema chinês, mas faz seu trabalho com paixão (trabalhando em um documentário sobre a vida de Zhao Dan). E a jornada de Caiyun, que busca se tornar uma grande estrela do cinema, assim como foi Huang Zongying, mas logo percebe que Xangai não é o lugar certo, as coisas estão acontecendo em Pequim. Mas o amor pelo cinema faz nascer o amor entre os personagens. 

A paixão pela sétima arte aproximou os protagonistas que se conheciam desde pequenos. De início, o convívio parece que vai ser turbulento, que não vai dar certo. Mas com o tempo, e muito esforço de Caiyun, os dois se aproximam mais, tornam-se cúmplices nessa busca por viver de cinema. Mas a reestruturação que Xangai vive, dificulta essa jornada. Logo que os dois se encontram bem um com o outro, surge a oportunidade de Caiyun ir a Pequim filmar, Ah Wei recusa essa nova vida. Sua vida está na nostalgia do cinema chinês, onde as coisas aconteciam, em Xangai. 

Lembre-se de Mim, Por Favor é um ensaio sobre o tradicional filme chinês, que em tempos passados era filmado especialmente em Xangai, usando o cotidiano comum, com clichês certeiros e admiráveis. Além disso, explora a junção de ficção e documentário, embora a relação dos protagonistas possa, facilmente, ser encontrada nas ruas de qualquer cidade, o estudo feito sobre o cinema chinês é algo que precisa ser visto por cinéfilos e amantes de cinema. Desde o início Lembre-se de Mim, Por Favor é uma obra de resistência, as ruínas onde os personagens habitam resiste ao tempo, o amor de Zhao Dan e Huang Zongying resiste ao esquecimento, o cinema feito em Xangai resiste à modernidade, tudo isso com tamanha sensibilidade de Peng Xiaolian.