sexta-feira, 20 de abril de 2018

Toni Erdmann (Toni, 2016)


Ouviu-se muito sobre Toni Erdmann no ano de seu lançamento, dirigido por Maren Ade, o filme foi aclamado por diversas mídias especializadas e, mesmo não ganhando destaque em algumas premiações, Toni é indicado pela massa como o melhor filme de 2016.

O longa vai além de uma comédia dramática, Maren Ade, que também assina o roteiro, nos entrega uma crítica social, que aborda a atual situação que muitos se encontram hoje. Ines (Sandra Hüller) é uma mulher insensível e objetiva, bem sucedida em seu trabalho que, resumidamente, é diminuir o gasto das empresas demitindo funcionários. Em um final de semana ela viaja de Bucareste (Romênia) até uma cidade da Alemanha, onde sua família vive. Seu pai, Winfried (Peter Simonischek), é um excêntrico professor de música, que leva a vida, as vezes dura, entre uma piada e outra.

Depois da visita apressada da filha, Winfried viaja até Bucareste para uma visita surpresa, mas suas piadas acabam gerando um certo desconcerto em Ines, então com tudo indo por água abaixo, ele decide criar um alterego, Toni Erdmann.

O que Ade nos entrega é um filme estranho, mas verosímel. Sua estranheza vem da naturalidade de como a peculiaridade de cada personagem é descoberta por eles mesmo e mostrada ao público. Temos dois personagens totalmente opostos buscando sentimentos que gritam dentro de si, mas que no fim o que ambos querem é achar um lugar no qual se encaixar.

Toni Erdmann foi exibido recentemente no Festival Sesc Melhores Filmes, mas bem antes disso recebeu o prêmio da crítica em Cannes e foi nomeado para o Oscar, Globo de Ouro e Befta.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Eu Eu Eu José Lewgoy (2011)



Começou no CCBB SP, nesta última quarta feira (18), a Mostra José Lewgoy, reunindo 22 filmes do ator, que foi grande destaque no cinema nacional e estrangeiro, somando mais de 100 filmes e 30 novelas. O documentário Eu Eu Eu José Lewgoy, dirigido por Cláudio Kahns, abriu a Mostra, nele seguimos a trajetória artística de Lewgoy, que participou de diversos movimentos cinematográficos durante sua carreira.

Viajar pela carreira de José Lewgoy é uma aventura extraordinária, começando sua carreira na extinta Atlântida com Carnaval no Fogo (1949), onde é membro de uma quadrilha que planeja roubar turistas durante o carnaval do Rio. Depois disso participou de diversas produções, passou alguns anos na França e, quando voltou, brilhou em Terra em Transe (1967), filme do diretor Glauber Rocha. Também atuou em Fitzcarraldo (1982), do diretor alemão Werner Herzog, esse que participa do documentário, dizendo como foi trabalhar com Lewgoy.

Para muitos a sua última grande obra foi O Judeu (1996), do diretor Jom Tob Azulay, um filme que demorou quase uma década para ser finalizado, mas mesmo diante de tantas adversidades recebeu grandes prêmios no Festival de Brasília, incluindo Melhor Ator Coadjuvante para José Lewgoy.

Neste sábado (21) o diretor Cláudio Kahns vai participar de um debate após a exibição do documentário no CCBB SP. Mas a Mostra vai até o dia 07 de maio, infelizmente não poderei ver todos os filmes que gostaria, mas estou ansioso para ver Terra Em Transe e Fitzcarraldo na Tela Grande.

Você pode conferir a programação completa da Mostra José Lewgoy clicando aqui!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Uma Espécie de Família (Una Especie de Familia, 2017)


Embora não possa dizer com certeza, acredito que a emoção de ter um filho é algo inexplicável. Olhar aquela pequena pessoa pela primeira vez, pegá-la no colo. Em Uma Espécie de Família o diretor Diego Lerman nos mostra a saga de um mulher que procura esse momento e que, diante de tantas adversidades, busca uma forma de redenção.

Malena (Bárbara Lennie) é uma médica de classe média que decide adotar um bebê, então encontra Marcela (Yanina Ávila), uma grávida que passa por dificuldades financeiras e pretende entregar o bebê para quem tenha mais condições de criá-lo. Então Malena vai até Misiones, na Argentina, quando a mãe biológica está prestes a entrar em trabalho de parto, quando o dia finalmente chega a médica é surpreendida com o modo que o submundo da adoção funciona.

Enquanto assistia Uma Espécie de Família no cinema, pensei em como é facil notar quando um filme é latino, aquela necessidade de trazer o que está no fundo do personagem para fora é exposta em closes que revelam seus medos, alegrias, ou como Malena, dor.

O roteiro de Lerman e María Meira nos mostra todo o processo ilegal de adoção e como as pessoas podem ser cruéis umas com as outras, algumas vezes por necessidade, como o caso de Marcela, outras por pura ganância. O momento em que a protagonista vê seu bebê pela primeira vez, vemos que amor é o suficiente para ser uma mãe, não precisa ter o mesmo sangue ou coisas do tipo, e isso fica mais claro quando a criança é tomada de Malena.

Talvez a história não traga nada de inovador e, algumas vezes, até esfrie, mas lembrando que nem tudo que se acontece ali é ficção, vemos que é um belo trabalho, que vale o tempo gasto para assistí-lo.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Projeto Flórida (The Florida Project, 2017)


Primeira cena: a câmera posicionada de baixo para cima, a fotografia, a paleta de cores. As crianças se divertem. Em um primeiro momento é isso que Projeto Flórida, do diretor Sean Baker, nos apresenta, sem nos preparar para o que está por vir.

Moonee (Brooklynn Prince) vive com sua mãe, Halley (Bria Vinaite), em um quarto desses motéis de estrada, típicos dos Estados Unidos. Moonee e seus amigos vivem grandes aventuras e parece que tudo vai acabar bem, então quando você está totalmente envolvido com os personagem as coisas começam a mudar, mas já e tarde para fugir e evitar aquele turbilhão de emoções desconcertantes.

O roteiro de Baker e Chris Bergoch tem como foco a visão infantil  de como é viver ali, naquele hotel (Reino Mágico) de beira de estrada. Mas muitas coisas chamam a atenção, começando pelo cenário, uma parte esquecida de Orlando que a fotografia (de Alexis Sabe) e a paleta de cores fazem parecer mais alegre. Também sabemos que, ali do lado, está o famoso Disney World, mas não o vemos, como se mesmo tão perto, estivesse longe das condições daquelas pessoas.

Enquanto Moonee se diverte com seus amigos, executando todo tipo de peraltagem, sua mãe, dotada de pouca responsabilidade, tenta garantir o dinheiro do aluguel. Mesmo sabendo que toda a situação das duas vem dessa irresponsabilidade de Halley (que só vai piorando com o tempo) é bonito ver todo o esforço que ela faz para que sua filha fique bem e tenha toda aquela alegria de uma criança.

Em meio a tudo isso temos Bobby, interpretado por Willem Dafoe, o ator com mais experiência do projeto. Sua atuação lhe rendeu um indicação de Melhor Ator Coadjuvante no Oscar, merecida. Ele é um gerente ranzinza, mas sempre que precisa, dribla todas as suas regras para ajudar os moradores, mostrando que no fundo daquela personalidade existe um bom coração.

Falar sobre Projeto Flórida pode ser uma missão difícil, a história que Sean Baker nos conta aqui é tão intensa que demoramos um pouco para digerir tudo aquilo, ainda mais quando sabemos que todo esse cenário marginalizado está mais perto do real do que gostaríamos.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Zama (2017)


Um tema tão recorrente que vivemos hoje em diversos países da América Latina, a corrupção não é algo novo, vem desde quando os colonos chegaram aos países sulamericanos. Esse é um dos temas apontados por Zama, filme da diretora argentina Lucrecia Martel, adaptado do livro homônimo de Antonio Di Benedetto. 

Don Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho) é um oficial da Coroa Espanhola que vive exilado em uma cidade esquecida na Argentina. Seu maior desejo é ser transferido para Buenos Aires, porém entra e sai governo e tudo o que ele consegue são promessas. Em seu exilio, Zama vive entre funcionários espanhois corruptos e que, muitas vezes, agem com descaso, indigenas que andam livremente pelos cenários. O negros, atuando como criados, também estão presentes, com destaque para a barsileira Mariana Nunes. Sua personagem é Malema, uma negra que trabalha como criada Luciana Piñares de Luenga (Lola Dueñas), manca e muda, Malema parece uma pessoa frágil, mas como diz Luciana "ela tem sua própria língua" e isso é visto através das atitudes da criada, que busca uma forma de revolução já na época.

Outro brasileiro que ganha destaque no filme é Matheus Nachtergaele, sendo o vilão Vicuña Porto, ele é uma das apostas de Zama para retornar a Buenos Aires, caso o oficial prenda Vicuña, poderá voltar a sua família. E completando o time brasileiro, temos a produtora Vania Catani, que ajudou Lucrecia a viabilizar a produção. E essa aposta da duas deu certo, o filme recebeu boas críticas fora da América Latina e ganhou destaque entre as programações nos festivais de BH, Rio e São Paulo, e agora, finalmente, chegou em definitivo aos cinemas brasileiros.

Lucrecia Martel precisou apenas de três longas para ser reconhecida no meio cinematografico, sendo seu último, A Mulher Sem Cabeça, lançado a cerca de dez anos atrás. Agora em Zama, ela consegue mais um ótimo filme, que vai além das histórias coloniais que estamos acostumados e nos entrega uma batalha mais psicologica que o protagonista precisa travar consigo mesmo.

domingo, 1 de abril de 2018

Soundtrack (2017)


O que é arte? Uma das minhas aulas favoritas no curso de jornalismo foi Arte, Estética e Mídia e essa foi a primeira pergunta que o professor nos fez. Chegamos a conclusão que arte é tudo aquilo que é aceito como tal. Mas como levar uma forma diferente de arte a outras pessoas? Talvez esse não seja o tema principal de Soundtrack, mas nos faz pensar um pouco sobre o assunto.

Escrito e dirigido pela dupla Manitou Felipe e Bernardo Dutra (300ml), o filme acompanha Cris (Selton Mello), assim que consegue autorização, ele parte para uma base de pesquisa no Ártico, onde pretende executar seu novo projeto, que busca misturar imagem, por meio de selfies e som.

Chegando a base, Cris conhece Mark (Ralf Ineson) - um especialista em aquecimento global (que passaria o Natal com sua familia, não fosse a chegada de Cris); Cao (Seu Jorge), um botânico brasileiro; Huang (Thomas Chaanhing), um biólogo chinês; e Rafnar (Lukas Loughran), um pesquisador dinamarquês. Cada um deles têm seus medos e receios e, com a chegada de Cris, começam a ver tudo isso de um outro ponto de vista.

Começa um conflito de valores entre Cris e o grupo de pesquisadores. Eles acreditam que seu trabalho beneficiará o mundo a longo prazo e não entende o que Cris pretende com o seu trabalho, mas ele quer levar sua arte as pessoas para que com a união da imagem e música, as pessoas possam elevar suas emoções a outro nível.

O projeto nasceu anos atrás, quando Selton Mello e Seu Jorge protagonizaram o curta Tarantino Mind's, escrito e dirigido pela dupla 300ml. Todo esse tempo que levou para amadurecer, resultou em um ótimo filme, onde encontramos cinco personagens que, isolados na imensidão do Ártico, vivem o extremo das emoções, que correm do desprezo ao companheirismo entre uma cena e outra.