terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu, 1993)


Julie Vignon (Juliette Binoche) perde seu marido e filha em um acidente de carro. Depois de alguns dias no hospital, onde viu o enterro dos dois através de uma TV portátil, volta para casa com um único desejo, fugir de tudo aquilo. Porém, seu marido, músico famoso, seria o responsável por um concerto de grande importância para a Europa, muitos querem que ela dê continuidade ao trabalho, então Julie foge para onde não a conheçam. Esse é o primeiro ato da história de A Liberdade é Azul, primeiro filme da trilogia das cores do renomado diretor polonês Krzysztof Kieslowski, que consegue segurar o espectador do início ao fim.

Desde esse primeiro filme, Kieslowski já tinha em sua mente a criação da trilogia. As cores remetem a bandeira francesa: azul (A Liberdade é Azul), branco (A Igualdade é Branca, 1994) e vermelho (A Fraternidade é Vermelha, 1994). E toda essa primeira produção gira em torno da liberdade que a protagonista procura ao se afastar dos conhecidos. Como em uma cena onde conversa com sua mãe: amigos, família, amores são apenas armadilhas para a vida. Por isso segue livre de qualquer laço. Mas ao mesmo tempo vemos que esse laços são necessários para que nossas vidas sigam em frente. Ela precisa que um vizinho lhe empreste o gato para pegar os ratos que estão em sua casa, logo depois uma outra vizinha a ajuda limpando a sujeira deixada pelo gato. É mesmo uma jornada em busca de liberdade, mas em um momento e outro a leva a redenção.

E é a essa redenção mascarada de desapego que vemos Julie chegar. Através de cenários que sempre trazem tons melancólicos de azul, vemos essa jornada solitária onde ela e nós, espectadores, muito aprendermos. É como um ensaio sobre a realidade das coisas, embora os demais personagens não sejam trabalhados a fundo, vemos neles personalidades que os trazem ao comum, como pessoas que poderíamos encontrar em qualquer esquina na cidade. 

A Liberdade é Azul foi uma das poucas produções francesas de Krzysztof Kieslowsk, cinema que ele tanto admirava. Mas deixou clara sua personalidade e toda a poesia imagética que ele queria transpassar através de seus filmes. Com uma Juliette Binoche brilhando em sua atuação, Bleu arrecadou o Leão de Ouro (1993) e Goya (1994), além dos prêmios Copa Volpi (1993) e César (1994) dados a Binoche. Com isso percebemos que Kieslowski não se apressou, trabalhou no seu ritmo, com empenho e delicadeza. Certamente essa é uma das grandes obras do cinema francês e isso não é algo fácil de se alcançar.