segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Synonymes (2019)


Nos últimos anos, foram inúmeros os casos onde pessoas morreram de frio. Vemos o poder do clima gelado da França quando Yoav (Tom Mercier) corre pelado por um apartamento sem nenhuma mobília. Recém chegado ao país, o imigrante palestino tem todas as suas roupas furtadas enquanto tomava banho. Desesperado, corre pelos corredores do prédio, no começo em busca de seus bens roubados, em seguida, a procura de alguém que o possa ajudar. Sem ajuda, volta a banheira outrora quente e, por fim, se deixa congelar. 

Podemos dizer que Synonymes é um filme ambicioso, mas um ótimo trabalho do diretor Nadav Lapid. Até ali, nada sabemos sobre Yoav. De onde veio e os motivos permanecem ocultos, nos instigando a esperar o fim dessa história. História que não seria possível seu um vizinho caridoso e sua namorada (interpretados por Quentin Dolmaire e Louise Chevillotte) não o resgatasse da banheira congelante. E é através da história contada pelo próprio Yoav que descobrimos suas origens e motivações. Ex-soldado do exército palestino, Yoav deseja mudar de vida, tendo como amigo um dicionário de hebraico-francês. Mas sua jornada na França não promete ser fácil e desde início ele passa por situações humilhantes.

O filme de Lapid é uma obra singular. Montado de uma forma que a história do protagonista não siga nenhuma ordem cronológica, ele segue uma.narrativa imagética. Com cenas soltas e algumas em uma filmagem mais "suja" nos deixa mais imersos na vida de Yoav. O que aumenta essa sensação é a trilha sonora, principalmente em momentos de maior tensão. Yoav foge de seu país para esquecer a guerra, acaba adquirindo um patriotismo francês que, vemos em diversas cenas, nem mesmo os originários ostentam. Isso é visto em suas aulas para virar cidadão francês, quando é indicado para cantar o hino, vemos uma euforia que está presente nele, mas não em personagens como Émile e Caroline. Ainda no decorrer dos mais de 120 minutos, vemos que as questões extremistas e religiosas estão presentes mesmo em outra país, uma parte por conta de organizações criminosas francesas, que pregam o preconceito a estrangeiros; outra parte do conta de imigrantes palestinos, que lutam contra essa primeira. 

Dá para entender porque Synonymes levou Berlim em 2019. O filme de Nadav Lapid mostra uma certa beleza marginal, que permeia entre imagens que parecem amadoras à cenas longas e belas. Se em alguns momentos o roteiro segue um ar literário, em outros momentos exprime o ódio e desespero de um personagem que deseja fazer parte de um sociedade que o rejeita, como uma forma de fugir dos próprios fantasmas. Além de sua beleza estética e singular, Synonymes se mostra necessário em um momento em que o mundo briga por uma maior adequação da visão do Homem.