sexta-feira, 2 de junho de 2017

Em um Pátio em Paris



Faz um tempo que criei esse blog, mas como comecei a ter mais responsabilidades no trabalho, não tive tempo, muito menos ânimo, para um primeiro texto. Mas contando com o inicio do Festival Varilux de Cinema Francês (minha mostra favorita), que começa na próxima semana, cá estou e nada melhor do que começar com um filme vindo de onde surgiu o Nouvelle Vague.

Ando assistindo um ou dois filmes por dia, dependendo do que há de bom, o último foi ‘Em um Pátio de Paris’ (Dans la Cour, 2014), de Pierre Salvadori. O filme nos apresenta a vida de Antoine (Gustave de Kervern) com uma leveza atraente, mas já nos preparando para o que vai acontecer. Antoine decide, em uma de suas apresentações, abandonar sua carreira musical, deixando o público aos pedidos de reembolso. Na procura de um novo emprego, buscando algo que o deixe sossegado e onde possa passar despercebido, acaba virando o zelador de um condomínio.

A primeira vista, parece o trabalho ideal para Antoine, que consegue, como bônus, um lugar para morar, onde pode viver de cerveja e cocaína (sendo essa a única maneira de conseguir conversar com outras pessoas). Porém, uma das moradoras do lugar é Mathilde (Catherine Deneuve), que, recentemente aposentada, vive sua vida para outras pessoas, o que acaba levando ela a o que muitos chamariam de loucura, mas segundo Salvadori, também responsável pelo roteiro, é só uma das formas da depressão.

Antoine e Mathilde tornam-se amigos e, nesse quesito, fazem um belo par. Um busca ajudar o outro, sem antes conseguir ajudar a si próprio, assim vivem juntos, cada um a sua depressão. Antoine, por vezes, é engraçado, com sua incapacidade de dizer não a amiga, ou a qualquer outro personagem que aparece em sua vida, mas também é triste ver o jeito como sua vida vai. Já Mathilde, beira a loucura, querendo abraçar o mundo e ao mesmo tempo, brigar com ele, levando para dentro de si uma confusão desnorteada, que transborda e começa afetar seu dia-a-dia.

A forma como Pierre Salvadori desenvolveu cada personagem é excepcional, tratando seus problemas a fundo, com sensibilidade a cada detalhe, em cada cena, mas dando um toque cômico aqui ou ali, para que o público não caia na monotonia que eles enfrentam. As atuação de Catherine Deneuve e Gustave de Kervern ajudam em muito o caminhar da história, são expressões, gestos e movimentos que traduzem o que o diretor deseja mostrar, mesmo quando palavras não são ditas.


Pierre Salvadori traz um tempo no qual muitos falam, mas poucos entende. E em ‘Em um Pátio em Paris’ ele acontece em suas formas e estágios, como Antoine já buscando um fim para tudo isso, enquanto Mathilde chegando aos primeiros estágios, um se salvando, o outro se entregando. Esse é um filme que divide opiniões, mas certamente merece ser assistido, pois sua leveza depressiva é necessária para que possamos entender um pouco mais sobre o assunto, pois “apesar das ansiedades e dos medos, devemos fazer de tudo para voltar para os outros”, ou será que não?

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