Faz um tempo que criei esse blog, mas como comecei a ter
mais responsabilidades no trabalho, não tive tempo, muito menos ânimo, para um
primeiro texto. Mas contando com o inicio do Festival Varilux de Cinema Francês
(minha mostra favorita), que começa na próxima semana, cá estou e nada melhor do
que começar com um filme vindo de onde surgiu o Nouvelle Vague.
Ando assistindo um ou dois filmes por dia, dependendo do que
há de bom, o último foi ‘Em um Pátio de Paris’ (Dans la Cour, 2014), de Pierre
Salvadori. O filme nos apresenta a vida de Antoine (Gustave de Kervern) com uma
leveza atraente, mas já nos preparando para o que vai acontecer. Antoine decide,
em uma de suas apresentações, abandonar sua carreira musical, deixando o
público aos pedidos de reembolso. Na procura de um novo emprego, buscando algo
que o deixe sossegado e onde possa passar despercebido, acaba virando o zelador
de um condomínio.
A primeira vista, parece o trabalho ideal para Antoine, que
consegue, como bônus, um lugar para morar, onde pode viver de cerveja e cocaína
(sendo essa a única maneira de conseguir conversar com outras pessoas). Porém,
uma das moradoras do lugar é Mathilde (Catherine Deneuve), que, recentemente
aposentada, vive sua vida para outras pessoas, o que acaba levando ela a o que
muitos chamariam de loucura, mas segundo Salvadori, também responsável pelo
roteiro, é só uma das formas da depressão.
Antoine e Mathilde tornam-se amigos e, nesse quesito, fazem
um belo par. Um busca ajudar o outro, sem antes conseguir ajudar a si próprio,
assim vivem juntos, cada um a sua depressão. Antoine, por vezes, é engraçado,
com sua incapacidade de dizer não a amiga, ou a qualquer outro personagem que
aparece em sua vida, mas também é triste ver o jeito como sua vida vai. Já
Mathilde, beira a loucura, querendo abraçar o mundo e ao mesmo tempo, brigar
com ele, levando para dentro de si uma confusão desnorteada, que transborda e
começa afetar seu dia-a-dia.
A forma como Pierre Salvadori desenvolveu cada personagem é
excepcional, tratando seus problemas a fundo, com sensibilidade a cada detalhe,
em cada cena, mas dando um toque cômico aqui ou ali, para que o público não
caia na monotonia que eles enfrentam. As atuação de Catherine Deneuve e Gustave
de Kervern ajudam em muito o caminhar da história, são expressões, gestos e
movimentos que traduzem o que o diretor deseja mostrar, mesmo quando palavras
não são ditas.
Pierre Salvadori traz um tempo no qual muitos falam, mas
poucos entende. E em ‘Em um Pátio em Paris’ ele acontece em suas formas e
estágios, como Antoine já buscando um fim para tudo isso, enquanto Mathilde
chegando aos primeiros estágios, um se salvando, o outro se entregando. Esse é
um filme que divide opiniões, mas certamente merece ser assistido, pois sua
leveza depressiva é necessária para que possamos entender um pouco mais sobre o
assunto, pois “apesar das ansiedades e dos medos, devemos fazer de tudo
para voltar para os outros”, ou será que não?
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