sábado, 27 de abril de 2019

Histórias que Nosso Cinema (não) Contava (2018)


Houve um momento no cinema Paulista em que nada parecia ser levado a sério. Foi o surgimento do que muitos conhecem como pornochanchada, enquanto outros o rotulam como cinema marginal. Independente do nome, foi ali pelas décadas de 1970 e 1980 que ele deu as caras, tendo grandes diretores como Carlos Reichenbach, Ody Fraga, Neville D'Almeida e tantos outros nomes. Mas embora parecesse, nem tudo era piada e é isso que a diretora Fernanda Pessoa nos mostra em seu primeiro longa-metragem: Histórias que o Nosso Cinema (não) Contava.

Com recortes de 30 filmes da época, entre eles A Super Fêmea (1973), Cada um Dá o Que Tem (1975), Eu Transo, Ela Transa (1972) e O Enterro da Cafetina (1971), Pessoa mostra que nem tudo naquele cinema era piada ou vulgaridade. Na época em que a ditadura reprimia e seu governo fazia o que bem entendia, tanta piada era usada para burlar o sistema e esconder o que poderia ser visto nas entrelinhas, como afirma Neville D'Almeida que em Neville D'Almeida: Cronista da Beleza e do Caos (2018).

Na sequência montada pela diretora vemos falas e imagens que atuam contra o que acontecia no país. Uma crítica forte, feita através do sarcasmo, sobre o caminho que a sociedade brasileira estava sendo empurrada pelo governo ditatorial. Além disso, existia também uma forte caminhada contra a violência contra a mulher e a homofobia, que na época já eram combatidas por quem conseguia se fazer ver.

O mais interessante desse filme é a montagem. Pode parecer fácil produzir algo sem ao menos gravar uma cena. Mas achar o formato adequado de se fazer isso é o verdadeiro trabalho, mas nisso Fernanda Pessoa foi certeira. A sequência de cenas parecem se tratar de um único filme, se tivéssemos os mesmo personagens em todas elas, teríamos certeza que seria o caso. Foi um ótimo trabalho da diretora, que segue um linha de tempo eficaz e nos mostra que nem tudo foi pornochanchada.

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