terça-feira, 26 de novembro de 2019

Um Dia de Chuva em Nova York ( A Rainy Day in New York, 2019)


"Não estar em Nova York é a mesma coisa que não estar em lugar nenhum", é com esse pensamento que Gatsby anseia voltar para a cidade de onde veio. Estudante de uma faculdade mais adequada, como diria sua mãe, e sem saber qual rumo tomar, o jovem viaja com sua namorada, Ashleigh, a Manhattan, onde a garota tem uma entrevista com o diretor Roland Pollard, para o jornal da mesma faculdade. 

Essa é a premissa de Um Dia de Chuva em Nova York, o mais novo trabalho do renegado diretor Woody Allen. Aqueles que acompanham o trabalho do diretor percebem de cara que se trata de um filme de Allen, é só ouvir a trilha sonora que dá início ao filme. A narrativa em terceira pessoa do protagonista com músicas clássicas ao fundo é uma das características do cineasta. Gatsby, interpretado por Timothée Chalamet, pode não ter os trejeitos que vimos em Alvy Singer (em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, 1977), mas o discurso é o mesmo. As discussões existencialistas, a procura de um objetivo para a vida e a indignação da "arte obrigatória" são frequentes em filmes do diretor.

Um dos pontos fortes de Allen, que também se mostra em Um Dia de Chuva, é a construção de personagens. Lembro que quando assisti Blue Jasmine (2013), fiquei marcado pela personagem interpretado por Cate Blanchett, tanto por gostar da atriz, quanto pela excentricidade da personagem. Agora temos um elenco forte, onde atores experientes contracenam com os mais novos. Além de Chalamet, temos Elle Fanning (Ashleigh), Liev Schreiber (Roland), Selena Gomez (Chan) e Jude Law (Ted Davidoff). Allen brinca com o seu meio através de Roland e Ted, um diretor e um roteirista que vivem entre festas, autodepreciação e novos "amores". Há também as personagens femininas, Ashleigh é aquilo que o protagonista mais deseja, enquanto Chan é aquilo que precisa, o que lembra um pouco de Meia Noite em Paris

O mais incrível de toda a obra de Woody Allen é como ele consegue reciclar a identidade de seus personagens, dar uma temperada para trazê-los aos dias atuais e ainda assim executar um trabalho tão singular. Para mim, Woody Allen é como um diretor europeu se divertindo em uma Nova York nublada, trazendo mais uma vez Manhattan como protagonista, ele faz a cidade brilhar mesmo debaixo de chuva. Ainda tenho Meia Noite em Paris como uma das melhores obras do diretor nos últimos anos, mas confesso que por alguns dias minhas emoções serão todas de Um Dia de Chuva em Nova York.

Nenhum comentário:

Postar um comentário