segunda-feira, 24 de junho de 2019

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006)


Se analisarmos a situação de muitos países podemos ver que todos estão em uma espécie de guerra. E, senão todos, alguns trazem em comum um período em que viveram diante do regime ditatorial. A Vida dos Outros, escrito e dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, nos mostra uma verdade ludibriada por esses sistemas, nos mostra que o conflito armado não é o maior medo para generais, coronéis ou capitães, mas sim o uso da palavra, que amplia ideias e ideais e incentiva o questionamento de tudo o que é imposto.

Donnersmarck trabalha com dois lados do conflito bem e mal durante o período em que a Stasi (a polícia secreta da Alemanha Oriental) vigiava seus artistas. De um lado temos o casal Georg Dreyman (Sebastian Koch) e Christa-Maria Sieland, ele diretor de teatro, ela atriz. Ambos vivem alheio aos acontecimentos políticos do país, até que uma reviravolta os colocam como principais arquitetos do declínio que está prestes a acontecer. Do outro lado, o mais surpreendente, o "camarada" Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), agente rigoroso da Stasi que se encarrega da vigia sobre o casal. Sua transformação é muito maior e começa depois que Dreyman toca Sonata de Um Homem Bom, a partir daquele momento o agente se questiona se o que está fazendo é certo ou errado.

Essas duas transformações são expostas lentamente, em cenas com poucos diálogos sobre o assunto, deixando muita coisa por conta do espectador. Mas isso não foi uma opção ruim tomada pelo diretor alemão, dando liberdade a quem acompanha a história, nos deixa com o mesmo sentimento de descoberta provado pelos personagens. Depois de Sonata de Um Homem Bom vemos a tensão nas decisões, uma batalha psicológica que busca discernir o certo e o errado diante da realidade em que se encontram, deixa o filme cada vez mais intenso. Uma intensidade que nos convida a entrar naquele momento idealizado por Donnersmarck, onde precisamos decidir o que é certo ou errado, quer eles existam ou não.

O mais interessante em A Vida dos Outros é como a história se mistura com a ficção. Nada é tão simples e apegado a clichês. Embora o acidente, que serve como uma premissa do fim, pareça a solução mais fácil para começar o último arco, é na verdade algo premeditado e ainda assim não podíamos esperar por algo daquele tipo. O trabalho de Donnersmarck é excelente, a sequência de cenas é uma coisa linda de se ver. A única coisa da qual me arrependo é ter demorado tanto para assistí-lo.

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