quinta-feira, 20 de junho de 2019

O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969)


No dia em que se comemora o Cinema Nacional, a Cinemateca Brasileira exibiu um dos filmes mais icônico do país: O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha, que também completou 50 anos de existência. O filme rendeu a Glauber o prêmio de Melhor Diretor em Cannes e é visto por muitos como a melhor obra de sua filmografia.

O filme até parece uma sequência de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de onde nasceu Antônio das Mortes (Maurício do Valle). Na história, Antônio está de volta para enfrentar um novo cangaceiro, depois de matar Lampião e Corisco, seu novo adversário é Coirana, interpretado por Lorival Pariz. É difícil decidir qual dos dois lados atua como antagonista. Enquanto Antônio das Mortes defende uma vila a contrato dos ricos da cidade, Coirana busca comida e paz para o seu povo. Todo esse questionamento é contado em alegoria, que mistura muito da cultura nordestina (como o cordel e o folclore) e a ópera que Glauber tanto gostava. 

E questionamentos não faltam. Glauber tinha essa necessidade de mostrar para o mundo o valor da cultura brasileira, em especial a nordestina (um pouco disso pode ser visto no livro 'A Primavera do Dragão', de Nelson Motta), e isso notamos logo no começo, quando um professor ensina algumas crianças as datas importantes do país. No fim da lição ele relembra o ano em que Lampião morreu, 1938, dando ao fato o mesmo valor de outras comemorações. E seu partidarismo político, questionando a reforma agrária, que prometia melhoras para o país. Mas tendo como foco a aridez do sertão nordestino, essa parecia uma ideia distante, que não atingiria o povo tão carente defendido por Coirana.

O decorrer de toda a história trata da luta do povo contra um sistema que o exclui do que deveria ser seu por direito. Nisso vemos que essa luta se auto recicla, com a morte de Lampião, surge Coirana, que quando é morto, é substituído por seu próprio executor, Antônio das Mortes. A mensagem explícita pode ser de que a luta do povo nunca morre, mas visto mais a fundo, não importa quantos coronéis e capitães apareçam, enquanto houver desigualdade e sofrimento, novos cangaceiros surgirão em busca da dignidade merecida de qualquer ser humano. Já havia assistido  Já havia assistido Deus e o Diabo...e Terra em Transe (1967) na tela grande e lamentava ter perdido O Dragão da Maldade quando tive chance, mas agora que o assisti, só queria que esses filmes fossem exibidos mais vezes nos cinemas, além de seu valor histórico, sua importância social ainda é tão relevante quanto na década de 1960.

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