segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meu Nome é Daniel (2018)


Normalmente um documentário parte em busca de algo. Procuramos uma identidade ou alguém que perdemos contato. Procuramos inspirações ou uma forma de expor um mundo desconhecido. Mas em Meu Nome é Daniel, um autorretrato do diretor Daniel Gonçalves, buscamos descobrir o motivo de sua "paralisia cerebral" (coloco isso em aspas, porque mesmo quando o filme chega ao fim, depois de alguns exames, a verdade ainda permanece oculta). Mas não se engane pensando que será uma jornada tortuosa, de salas fechadas com pessoas de jaleco branco. Daniel usa filmagens feitas por seu pai quando ele ainda era pequeno e faz um colagem que mostra todo o seu desenvolvimento, mostrando sua perseverança e atitude.

Embora a ideia de partir em busca dessa descoberta dê início ao filme, ela é tratada em poucos momentos. Na maior parte do tempo temos essa colagem, que mostra como Daniel e sua família conviveu com sua deficiência durante os anos. Toda sua vida é mais que superação, é perseverança, atitude e coragem. É interessante ver como o próprio Daniel persistia em fazer as coisas sozinho, aprendendo a lidar com sua situação. Por isso hoje ele é o personagem dessa produção, um cineasta, um montanhista e coisas que nem mesmo ele achou que seria.

Daniel leva o espectador para o seu íntimo, como se fosse parte da família. Isso fica claro com os enquadramentos, sempre próximos, como se em sua produção seguisse a estética usada por seu pai anos atrás. Essa proximidade nos faz entender sua luta. Logo o motivo para sua limitação se torna coadjuvante e nos atemos a sua luta. É notável ver o esforço de sua família, e dele próprio, para fazer parte das coisas desde sua infância, menosprezando sua condição e buscando agir como igual diante dos demais.

Meu Nome é Daniel é uma surpresa. O que uma sinopse pudesse apresentar uma história dramática, Daniel apela para o humor, mostrando que sua limitação de movimento não define sua vida. Em alguns momentos, como quando decide dirigir um carro ou fazer omelete, ele usa o bom humor para lidar com situações complicadas. Mas o que mais chama a atenção é a analogia feita para encerrar o documentário. Nascido em família de classe média alta, ele questiona como seria recebida a mesma história contada por uma pessoa em outra situação social. É importante levar isso em consideração, dada a situação atual do país, mas o cinema vem forte nesse quesito e assim como Daniel, vamos superar qualquer adversidade.

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