segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Vazante (2017)


Vazante já iniciou sua carreira sendo um filme polêmico. Em sua estreia na 50º edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro (2017), a diretora Daniela Thomas enfrentou um debate acalorado sobre a atuação de negros em seu filme. Fora isso, o filme foi adorado, como não poderia deixar de ser, e ganhou destaque em outros festivais.

Na cidade de Vazante, no interior de Minas Gerais, vivem donos de terras, gados e escravizados. O filme passa por diversas situações, que vai da vida injusta levada pelos negros vindos do continente africano, até a situação de brancos menos afortunados. Mas o foco é o casamento de um tropeiro português, com seus 50 anos, com uma jovem de 12 anos. História essa que a diretora afirma ter sido contatada por seu pai e que já está na família há tempos.

O trabalho da diretora Daniela Thomas é excelente. O filme em preto e branco nos ajuda a assimilar as situações à época. Vemos escravizados insatisfeitos, como era de se esperar, e sinhozinhos pouco confortáveis com essa situação. É preciso entender que no filme as coisas são narradas com ideias do que acontecia nos anos 1820. A forma como é contada, mérito da montagem, ameniza qualquer situação que poderia elevar a emoção, transformando tudo em algo comum, corriqueiro, como devia ser.

Tendo como pilar o casamento entre o tropeiro e a garota, Vazante conta muitas histórias ao fundo. A hierarquia permeia entre uma cena e outra. Não é só em relação a submissão de negros em relação aos brancos. Também há essa submissão de negros com negros e brancos com brancos, é tudo uma questão de poder. Em meio a tantas dores, a câmera é aproveitada em cada cenário. Com poucos diálogos, ela se mostra necessária ao captar a expressão de cada personagem.

Qualquer filme que exponha os mesmos temas que Vazante, vai ser polêmico. Mas é um filme aberto a qualquer interpretação, mas o que provavelmente será unanimidade é sua beleza artística. Entendo a necessidade de tratar de temas que por muito tempo foram deixados de lado (leia Jeferson De, Spike Lee e o novo Cinema Negro), mas é preciso entender que nem sempre teremos heróis revolucionários, que são capazes de mudar uma nação. Algumas vezes uma história só precisa ser contada como ela realmente foi e isso não a coloca em cima do muro, as críticas estão lá, é só procurar ver.

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