sábado, 21 de setembro de 2019

Noite Mágica (Notti Magiche, 2019)


Voltando, assim como comentei em Umberto D, a Itália na época em que ela era responsável por muitos dos filmes de arte que eram consagrados em festivais internacionais. Não que esse seja um filme desse período, mas Noite Mágica, do diretor e roteirista Paolo Virzì, resgata o fim da era mágica, quando a Itália respirava cinema.

Tudo começa com um carro caindo no Tibre, em Roma, bem no meio de uma cobrança de pênaltis entre Itália e Argentina. A Itália perde a disputa, quase ninguém se preocupa com o automóvel que precipitou-se ponte abaixo. Mas a polícia chega, reconhece o cadáver de Leandro Saponardo (Giancarlo Giannini), um produtor de cinema. Uma fotografia encontrada no bolso do falecido mostra ele, sua amante e três aspirantes a roteiristas. A amante, Giusy (Marina Rocco) é a primeira que aparece na delegacia, acusando os três roteiristas. Antonino (Mauro Lamantia), Luciano (Giovanni Toscano) e Eugenia (Irene Vetere) chegam depois, para contar ao chefe de polícia os acontecimentos do último mês. É então que a história escrita por Virzì, ao lado de Francesco Piccolo e Francesca Archibugi, começa a ganhar forma.

Tendo como ponto de partida a morte do produtor, Virzì discorre sobre o período de transição do cinema italiano, quando o neorrealismo chegava ao fim e novos roteiristas surgiam com novas histórias. Vemos que existe um pouco do próprio diretor em cada personagem criado, além de semelhanças de personagens secundários com personalidades reais, afora aqueles que receberam o mesmo nome, como Fellini e Antonioni. Mas o mais interessante é ver como essa mudança ocorre. Não é algo exclusivo do cinema, toda a arte passou por essa transformação com o tempo, muitas vezes com ajuda da tecnologia. O tratamento dado aos velhos e novos cineastas, em suas interações, chama a atenção por chegar tão próximo ao real, mesmo a partir de pura ficção.

Ainda em tempo, a atuações de todos os personagens se faz de maneira excelente. Gostei muito de Giannini, um produtor vaidoso diante de sua carreira, que se apega a qualquer artimanha para não perder sua credibilidade. Já os três roteiristas, Lamantia, Toscano e Vetere, estão em sincronia, gerando cenas que vão da graça à tensão de maneira excelente.

Sou aquele cinéfilo que vez ou outra coloca um filme neorrealista na TV, e sempre está presente quando esses estão sendo exibidos em alguma mostra, e ver Noite Mágica foi como voltar em um tempo que não vivi, mas certamente viveria com esse grande amor pelo cinema. Paolo Virzì é um excelente diretor, da época do velho e do novo, que possui propriedade para falar sobre cinema e faz isso comgrande empenho e paixão em sua nova produção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário