quarta-feira, 22 de abril de 2020

Blue Girl (2020)


BIFF - O futebol é uma paixão. Em época de Copa do Mundo muitas pessoas se reúnem em frente a TV, seja em casa, na casa de amigos ou em uma mesa de bar. E é isso que o diretor Keivan Majidi vem nos mostrar em Blue Girl, onde em uma vila montanhosa no Curdistão, as pessoas são apaixonadas por futebol, tendo como plano de fundo a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. A produção é de uma sensibilidade irretocável, acompanhando um grupo de crianças que lutam pelo sonho de ter um campo de futebol.

O documentário acompanha um grupo de crianças, entre meninos e meninas, que são apaixonados por futebol. Mas vivendo em uma região montanhosa, não encontram nenhum lugar plano onde possam jogar. O jogo acontece nas ladeiras estreitas da vila, tirando o sossego e quebrando utensílios dos mais velhos. Nesse clima de tensão, o jeito é achar um lugar para jogar, junto a um adulto que se diverte com a criançada eles começam seu trabalho no topo da montanha, no que será o primeiro campo de futebol da região.

Blue Girl é uma obra-prima. Com uma fotografia estonteante e trilha sonora primorosa, o trabalho de Majidi recebe atenção em cada detalhe. A presença de Ruud Gullit, o adulto que está sempre com as crianças, mostra o quanto é necessário persistir em um sonho e a menção de nomes famosos do futebol mundial reflete a importância desses jogadores para o imaginário das crianças. 

Existe também uma crítica em relação a proibição de mulheres nos estádios iranianos. Essa crítica fica clara tendo como narradora uma das garotas que ajudam na criação do campo. E se mostra ainda mais quando Gullit convida os aldeões para a primeira partida, deixando claro que não existem diferenças entre homens e mulheres. E é daí que surge o nome Blue Girl, esse era o apelido de uma mulher de 30 anos, chamada Sahar Khodayari, apaixonada pelo Esteghlal Football Club e que foi presa ao se vestir de homem e tentar entrar em um estádio. Ao saber que pegaria entre seis meses e dois anos de prisão, ateou fogo no próprio corpo.

Blue Girl só falha ao não se aprofundar mais nessa questão das mulheres, poderia ter aproveitado o espaço para discutir com maior exatidão o assunto. Fora isso, o filme mergulha de cabeça na missão das crianças em construírem seu próprio estádio e seguirem o sonho de jogar futebol nas maiores seleções do mundo. As crianças trabalham de uma forma tão afetuosa que mal acreditamos se tratar de um documentário, mas ao ver aquela energia que não poderia ser fingida, vemos a importância de algo que deveria se comum em todas as regiões.

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