quinta-feira, 4 de julho de 2019

Deslembro (2019)


Filha de pais militantes que lutaram contra a ditadura militar, Joana foi criada na França, país onde sua mãe refugiou-se após seu pai ter desaparecido em poder dos militares. Alguns anos depois, contra sua vontade, volta ao Brasil com sua mãe, dois irmãos e padrasto, que por sua vez lutou contra Pinochet, no Chile. A perspectiva de uma nova vida no Brasil desperta fragmentos de memória de Joana, que em busca de desvendar o desaparecimento de seu pai, embarca em uma jornada de amadurecimento e descobertas.

Delicadeza é o que melhor define Deslembro, filme escrito e dirigido por Flávia Castro. A história se passa em 1978, um período de transição no Brasil, e traz como cenário o Rio de Janeiro. Leva um tempo para que Joana se adapte ao novo país, mas é nisso que vemos um cinema sendo bem feito. Quando chega ao Brasil a garota ainda está atrelada a música internacional, mas com o tempo vai sendo envolvida pelo samba carioca.

A única coisa que desaponta um pouco é a simplicidade, que em Deslembro age de duas maneiras. O desapontamento é devido a falta de emoção em algumas cenas das quais se espera mais. A atuação de Jeanne Boudier (Joana) é excelente, mas em alguns momentos em que contracena com Eliane Giardini (sua mãe, Lúcia) falta um pouco do confronto adolescente. Mas em contraponto, temos a simples e bela fotografia de Heloísa Passos. Embora o Rio seja uma ótima cidade para se filmar, vemos muitos quadros fechados, mas que ainda assim capturam toda a beleza que podem proporcionar.

Se Flávia Castro já havia feito um ótimo trabalho no documentário Diário de Uma Busca (2011), agora ela traz o mesmo tema para a ficção e surpreende. Talvez tenha faltado um pouco de emoção, mas acompanhar Joana em suas descobertas e acabando com um pequeno resquício transgressor nos mostra o que foi aquele período de transição do país, que parece ainda não ter chegado ao seu fim.

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